Volta para a tua terra, trabalhador!
Em Portugal, não importa se estás a reconstruir ruas, apanhar batatas ou isolar telhados, o refrão da música no ouvido do TRABALHADOR imigrante é o mesmo: "Volta para a tua terra!" - Claro! Estou de malas prontas!
Eu acompanhei esse "abrir das portas" à imigração e lá vai a minha crónica, depois de 3 anos em Portugal...
O mês era fevereiro do ano 2022 e chego em Portugal, de mochila às costas e arrastando uma mala - e nela um caderno com os rabiscos de meus sonhos por realizar na Europa. O plano era cursar um Mestrado em Empreendedorismo e Inovação no IPB - Instituto Politécnico de Bragança, trabalhar por alguns meses e voltar para a minha terra. Eu era um dos selecionados em concursos de vagas da CMP, com protocolo com o IPB.
Vivi no Brasil durante seis anos, onde cursei bacharel em Administração e fiz uma pós-graduação em Docência Universitária, e para quem nasceu numa terra árida como a nossa África, Portugal não me encantou pelo verde e o frio - eu vim do Amazonas. A primeira lembrança é da compra de um Cartão Sim da Vodafone que me custou 20 euros no aeroporto de Lisboa, por ignorância. Três horas de comboio à uma cidade da região do Centro de Portugal - Aveiro, mais algumas horas de autocarro para Bragança e lá estava eu na terra pertencente à antiga província de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Depois de um mês, dormindo em um alojamento provisório da Associação de Estudantes Africanos em Bragança, consegui alugar um quarto e ter o meu cantinho de paz e estudos.
Seis meses depois terminei o segundo semestre do curso - solicitei o visto em julho de 2021, que foi emitido em janeiro de 2022 e cheguei ao IPB no fim do primeiro semestre; eu precisava aguardar o próximo semestre letivo para cursar o primeiro semestre - o ponto aqui é a enrolação da Embaixada de Portugal na emissão dos vistos, mas mesmo sem estudar pagamos à escola o semestre. O argumento é: "estavas matriculado", disse a secretária acadêmica.
Eu acompanhei esse "abrir das portas" à imigração e lá vai a minha crónica, depois de 3 anos em Portugal...
O mês era fevereiro do ano 2022 e chego em Portugal, de mochila às costas e arrastando uma mala - e nela um caderno com os rabiscos de meus sonhos por realizar na Europa. O plano era cursar um Mestrado em Empreendedorismo e Inovação no IPB - Instituto Politécnico de Bragança, trabalhar por alguns meses e voltar para a minha terra. Eu era um dos selecionados em concursos de vagas da CMP, com protocolo com o IPB.
Vivi no Brasil durante seis anos, onde cursei bacharel em Administração e fiz uma pós-graduação em Docência Universitária, e para quem nasceu numa terra árida como a nossa África, Portugal não me encantou pelo verde e o frio - eu vim do Amazonas. A primeira lembrança é da compra de um Cartão Sim da Vodafone que me custou 20 euros no aeroporto de Lisboa, por ignorância. Três horas de comboio à uma cidade da região do Centro de Portugal - Aveiro, mais algumas horas de autocarro para Bragança e lá estava eu na terra pertencente à antiga província de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Depois de um mês, dormindo em um alojamento provisório da Associação de Estudantes Africanos em Bragança, consegui alugar um quarto e ter o meu cantinho de paz e estudos.
Seis meses depois terminei o segundo semestre do curso - solicitei o visto em julho de 2021, que foi emitido em janeiro de 2022 e cheguei ao IPB no fim do primeiro semestre; eu precisava aguardar o próximo semestre letivo para cursar o primeiro semestre - o ponto aqui é a enrolação da Embaixada de Portugal na emissão dos vistos, mas mesmo sem estudar pagamos à escola o semestre. O argumento é: "estavas matriculado", disse a secretária acadêmica.
Eu tive a sorte de não me estressar com o processo de pedido de autorização de residência - no mês de junho de 2022, o meu título de residência já tinha sido emitido e nada a reclamar até hoje.
O que fazer nas férias? - Trabalhar!!! Foi precisamente neste período, de junho a agosto de 2022, que Portugal começou a "abrir as portas" com as alterações na Lei de Estrangeiros e a criação do visto de procura de trabalho - precisavam da mão-de-obra de alguém para fazer os trabalhos que os herdeiros portugueses não querem fazer. Neste site escrevi dezenas de artigos, notícias e tutoriais, ajudando pessoas com informações sobre vistos para Portugal, à procura de uma vida melhor nas terras lusa.
O meu primeiro trabalho, part-time, em Portugal foi numa empresa de consultoria de gestão por dois meses, depois fiz voluntariado em uma Quinta, numa Vila no Centro de Portugal, por nove meses - sobre isso, em 2023 escrevi o artigo Conheça HelpX e faça voluntariado na Europa. Alguns meses depois fiz um estágio de 6 meses em instalação de sistemas fotovoltáicos e, nos meses seguintes, trabalhei como ajudante em empresas de construção civil, na lavoura apanhando pêras e batatas, etc.
E nessas idas e vindas, o refrão da música mais escutada no sul de Europa foi "Volta para a tua terra".
O que fazer nas férias? - Trabalhar!!! Foi precisamente neste período, de junho a agosto de 2022, que Portugal começou a "abrir as portas" com as alterações na Lei de Estrangeiros e a criação do visto de procura de trabalho - precisavam da mão-de-obra de alguém para fazer os trabalhos que os herdeiros portugueses não querem fazer. Neste site escrevi dezenas de artigos, notícias e tutoriais, ajudando pessoas com informações sobre vistos para Portugal, à procura de uma vida melhor nas terras lusa.
O meu primeiro trabalho, part-time, em Portugal foi numa empresa de consultoria de gestão por dois meses, depois fiz voluntariado em uma Quinta, numa Vila no Centro de Portugal, por nove meses - sobre isso, em 2023 escrevi o artigo Conheça HelpX e faça voluntariado na Europa. Alguns meses depois fiz um estágio de 6 meses em instalação de sistemas fotovoltáicos e, nos meses seguintes, trabalhei como ajudante em empresas de construção civil, na lavoura apanhando pêras e batatas, etc.
E nessas idas e vindas, o refrão da música mais escutada no sul de Europa foi "Volta para a tua terra".
Para quem cresceu ouvindo histórias de navios negreiros portugueses que levaram meus pais e avós a São Tomé e Príncipe para trabalharem nas roças, sob açoites de homens brancos, esse refrão soa a provocação. Os olhares nas ruas e supermercados não escondem esse desejo de nos verem longe daqui, fora da terra deles. Mas, eu até entendo o povo português! Não é que a nossa presença cause desconforto no estômago deles - não vivemos às suas custas, somos trabalhadores; não dormimos em seus quartos de hóspedes, pagamos o preço de um rim pelos seus imóveis; não recebemos cestas básicas, passamos o nosso cartão Revolut ou da Nu Bank nas lojas. Mas então, por quê essa aversão ao trabalhador imigrante? Simples!!! É alimentada por discursos políticos que rotulam a "miséria do povo" à imigração em massa - dizem que viemos cá viver às custas de subsídios do Estado e tirar os direitos dos portugueses", um discurso maldoso e pintado a racismo, nada condizente com a verdade!
Querem dizer que as portas estavam escancaradas e nós entramos em Portugal vindos do espaço ou por vias subterrâneas e não nos viram chegar? No entanto, temos um carimbo do controle de imigração da fronteira no passaporte, temos NIF, NISS e NÚMERO DE UTENTE, temos contratos de trabalho e descontamos na Segurança Social; só não podemos viver em paz e ter o respeito como qualquer ser humano.
Salve! Estou de malas prontas para "Voltar para a minha terra" e até deixei uma vaga de trabalho na apanha de batatas nos campos de Santarém, para os filhos desta terra - os verdadeiros postugueses.
Há quem diga: "ignore-os, todos não são assim"! Certa a afirmação, mas a verdade é que nem todos os imigrantes vieram a Portugal porque não tinham outros meios de viver - o plano era esse mesmo: estudar e voltar pra casa!!!
Salve! Estou de malas prontas para "Voltar para a minha terra" e até deixei uma vaga de trabalho na apanha de batatas nos campos de Santarém, para os filhos desta terra - os verdadeiros postugueses.
Há quem diga: "ignore-os, todos não são assim"! Certa a afirmação, mas a verdade é que nem todos os imigrantes vieram a Portugal porque não tinham outros meios de viver - o plano era esse mesmo: estudar e voltar pra casa!!!
Como bem escreveu Fábio Pimentel, em seu artigo intitulado "Volta para a tua terra!", publicado no Público, "Portugal deu um passo relevante (com essas novas alterações na Lei de Estrangeiros, principalmente com relação ao visto de procura de trabalho que passa a ser emitido apenas a profissionais altamente qualificados, o tempo para solicitar cidadania e reagrupamento familiar) para que os imigrantes comecem mesmo a pensar em regressar aos seus países de origem, como exclamam muitos xenófobos por aí".
Ainda bem que podemos voltar pra nossa terra. Eu já estou de regresso, a despeito das mudanças na referida lei. A grande verdade é que está ficando cada vez mais insuportável viver neste país que se gaba de ser um paraíso e ter que escutar essas ofensas de homens sem escrúpulos.
Não querendo passar a imagem de que Portugal foi um inferno em minha vida nesses três anos, reconheço a bondade de homens e mulheres de bem que me sorriram, me deram uma mão amiga e não fizeram cara feia, nem me mandaram ir embora quando souberam de onde eu vim. A todos vós, meu eterno obrigado e guardo na memória o vosso gesto de altruísmo.
Desejo boa sorte aos meus irmãos que ficam - continuem focados no vosso objetivo, e votos de prosperidade económica à terra lusa! Nos vemos algum dia nas praias de Santa Maria ou junto ao Pelourinho, em Cidade Velha!
Desejo boa sorte aos meus irmãos que ficam - continuem focados no vosso objetivo, e votos de prosperidade económica à terra lusa! Nos vemos algum dia nas praias de Santa Maria ou junto ao Pelourinho, em Cidade Velha!
Escrito por Isaías Cardoso