No dia 1 de Dezembro de 2019, o mundo ouviu falar da pandemia de COVID-19, uma doença respiratória aguda causada pelo coronavírus de síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), e no dia 31 de Dezembro foi reportado o primeiro caso, em Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China.

De lá pra cá, 1.400.000+ pessoas já foram infectadas, mais de 300.000 casos recuperados e mais de 85.000 mortes.

Não fazendo exceção de pessoas, a COVID-19 já matou crianças, jovens, adultos e velhos. O homem está assustado e até a OMS já considerou o coronavírus como sendo a 'maior crise sanitária mundial da nossa época'.

E neste meio tempo, de praticamente três meses, a nossa rotina mudou, nossos hábitos mudaram e foi apelado o isolamento social, a ficarmos dentro de casa, para não nos contaminarmos e propagarmos o vírus (uma das medidas de prevenção impostas pelo nosso e muitos governos no mundo), no entanto, as opiniões divergem e alguns não querem ficar em casa; querem continuar a sua rotina normal, justificando que “a vida não pode parar” e muitos líderes mundiais que ignoraram o isolamento social tiveram que voltar atrás, reconsiderando esta medida como necessária.

Uns defendem a economia a custo de vidas humanas, já fazendo projeções futuras e não querem que a economia pare.

Outros estão com medo de perder sua posição na política; e outros não querem perder o prestígio de serem potências mundiais.

Outros ainda, na busca desenfreada para “proteger o seu quintal” colocam até a amizade entre países em causa (e isso já é um bom motivo para guerra).

Parece que nunca fomos preparados / educados para viver numa situação de crise como esta.

Para os “profetas” de nossos dias, que olham para os astros e profetizam sobre o futuro, o ano de 2020 seria um ano promissor, mas de repente a profecia não cumpre. O que vemos é o sofrimento e luta de milhares para que não lhes faltem o ar e morram.

O mundo já viveu diversas crises, com prejuízos de muito dinheiro e vidas. Mas, o que aprendemos com elas?

Voltamos ao ponto de reflexão, mais concretamente a situação de Cabo Verde face ao COVID-19, que até o momento tem 7 casos confirmados e 1 morte.

O ponto em questão, que eu gostaria que refletíssemos, é a forma como temos comportado perante este mal.

O governo decretou estado de emergência a partir das 0h00 do dia 29 de março e nesses 11 dias já presenciamos o desespero das pessoas, uma louca correria atrás de mantimento (comprando mais do que precisam para estocar em casa, esquecendo que não podemos estocar comida para comer para sempre e que "a vida não é sobre tudo o que seu dinheiro é capaz de comprar").

Muitos fazendo filas em farmácias e comprando todo o estoque de produtos (máscaras, álcool gel, luvas), ditos essências na prevenção, esquecendo que aqueles que mais precisam deles (os que sofrem de problemas respiratórios, profissionais de saúde e outros) - podem não encontrar para comprar.

Comerciantes reclamando de terem que fechar os estabelecimentos comerciais mais cedo; reclamações de empresários que precisaram fechar a empresa e uma onda de descontentamento sem precedentes com as medidas impostas pelo governo no combate ao COVID-19.

Pense comigo!

O governo decretou o estado de emergência até o dia 17 de abril. Se esse prazo vai ser prolongado ou não, não sabemos. Tudo vai depender da evolução, ou não, do vírus no país, mas o prazo do decreto ainda é este. Uns 20 dias, no total, se não estiver errado este cálculo.

E, esta medida vem à tona em um momento em que a prioridade é a saúde pública. E quando pensamos que se não cuidarmos deste detalhe, frente a um vírus mortal, vamos colocar em causa o mais essencial, que é a vida, e todo o resto que fazemos com vida. Mas, parece que isso é difícil de ser compreendido por todos.

Vendeiras informais já reclamam que se não venderem não terão o que comer; condutores de Hiace já reclamam que agora transportam poucos passageiros e não é lucrativo, pedindo ao governo que faça isenções das muitas taxas que pagam por aí; produtores de queijo já foram à Rádio falar da preocupação com o estoque de queijos que não tem saída porque não tem barcos para os transportar; donos de bares reclamam de terem que fechar às 21h, sob o pretexto de que são os clientes que pagam suas despesas; artistas reclamam que se não fizerem shows não terão meios de sobreviverem; empresários reclamam que se não venderem não terão lucros, que o negócio vai falir e que não podem pagar os funcionários; e outras infinitas reclamações.

Só faltou aqueles que nada têm dizerem que já morreram já.

Tudo isso, só porque fomos apelados a ficar em casa vinte dias, digamos assim. Só 20 dias. Mas se a situação não mudar vamos continuar outros 10, 20, 30 dias e quantos dias forem necessários, porque isso é sobreviver numa crise, de um mal que nenhum de nós pode fazer nada para o eliminar já. Custa colaborarmos?

Nas redes sociais só se fala disso. Cada um reclama de seu “bico e bucho”. Pergunto: a culpa, de quem é? Fomos tirados nossa liberdade ou tivemos que agir pelo bem de todos? Cabo Verde vai deixar de ser um estado laico?

Será que em um período de 15 ou 30 dias se não produzirmos e não vendermos nada vamos morrer? As empresas vão falir em 30 dias se não lucrarem?

O governo já determinou medidas para as empresas em relação aos seus trabalhadores, já foram tomadas medidas para ajudar os mais necessitados.

ONGs estão mobilizando recursos e pedindo ajuda para apoiar os mais desfavorecidos de nossa sociedade.

A FMI já fez empréstimo de milhões de dólares ao país no combate a este vírus; e por todo lado estamos vendo iniciativas para sobrevivermos a isto.

E se tivemos que ficamos isolados por um ano? Vamos nos matar por causa disso? Não têm nenhum trocado no banco, oh empresários? Se sim, não dá pra comprar comida por 30 dias?

Fico pensando: vamos mesmo morrer de fome por falta de comida ou pela ganância de querer lucrar todos os dias e sempre? E irracionalmente, colocamos em causa o mais importante, a vida. Mortos não vendem, não comem, não criam nem gerenciam negócios, concorda? Então, é demais ficar em casa para proteger a si e os seus, enquanto ajudamos a conter a propagação do vírus e depois podermos sair e fazer o que quisermos de nossa vida?

Já ouvimos casos em que a polícia teve que intervir porque muitos, simplesmente, não colaboram com as autoridades por uma causa nobre nossa, o bem de nossa própria vida.

Pense nisso. O mais importante não é vender ou ganhar agora; o mais importante é estar vivo, e com saúde você procura o pão depois.

Vamos acatar as orientações do governo, as orientações dos órgãos de saúde pública e juntos vencermos esta causa. Quanto mais colaborarmos mais rapidamente esse mal será eliminado de nosso meio e poderemos voltar à nossa rotina.

Cabo Verde não é um pais rico. Dizem ser de desenvolvimento médio. Oxalá seja mesmo verdade. Mas penso que se a crise durar um ano não vamos morrer por causa de comida, certo? O essencial numa crise é sobreviver e nós, (srsrs) nós sobrevivemos todos os dias neste país.

Mas lembre-se: a vida não é só de dias bons, existem dias ruins e estamos vivendo estes dias agora. Quando chover plante, colha os frutos e guarde um bocado para os dias maus, e assim saberemos estar em paz, de bucho cheio, sem reclamar, nos dias de seca ou numa crise.

E que depois de tudo isto tenhamos aprendido alguma coisa boa, quem sabe ser grato pela vida por ter cuidado de si e dos seus.

"Fique Em Casa. Sta Na Bu Mon, Sta Na Nos Mon"